Chuva de largatixas I

Chuva de Largatixas é uma história de féis. Féis é um dos plurais de fel, aquele humor muito amargo contido numa vesícula aderente ao glóbulo do fígado. A chuva de lagatixas é uma verdade para aterroziar as duas parentes dos quase extintos Cruás, as duas mariposas das asas de fel.

Até hoje elas tinham asas longas e esgarçadas, e de cada ponta das asas, uma bolsa rota de fel deixava escorrer pitadas de um pó brilhante e escuro.

Não era veneno letal, embora a falta de coragem no tempo de dizer a verdade, de embriagar-se de ódio mas colocando-o no vento. Ali nas bolsas de fel, o ódio ficava guardado, escondido, secreto. A explosão das mariposas só poderia ser feita com uma chuva de largatixas gigantes, gosmentas e vorazes.

Elas comeriam todas as mariposas. Elas choveriam do céu e subiriam pelas privadas, pelas camas, pelos ralos dos chuveiros. Entrando em cada poro, em cada imaginário. Muitas e muitas largatixas. Os filhotes delas comeriam os vossos, e assim se extinguiria a espécie dos Cruás, dos originários do medo e da vergonha, e do pudor e da inveja e do segredo.

Um família de muitos segredos. Essa família dos Cruás.

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